quarta-feira, 29 de agosto de 2007

HISTÓRIAS DE BOTEQUIM

Esta aconteceu na época em que o Drácula aterrorizava o leste europeu e Jack, o estripador, tirava o sossego dos boêmios londrinos, sem falar do terrível "fog" inglês, que era muito mais denso do que hoje, o que duplicava as dificuldades de locomoção para pessoas de vista curta, como o Dr. Hamilton, advogado fracassado que varava as madrugadas nos "pubs" da capital e, apesar de usar óculos de fundo de garrafa, que não lhe valiam para mais nada, ainda insistia em ser o último a deixar os bares.
- Por que não vai de uma vez, Dr. Hamilton, antes que chegue o "fog"? - preocupava-se Richard, o dono do bar. - O senhor tem vista curta...
- Não se preocupe, meu rapaz, é para isso que trago o meu guia - e exibe uma bengala longuíssima.
- E isso resolve contra o nevoeiro?
- Meu jovem, isso resolve até na mais completa escuridão! Além do mais, eu conheço muito bem o trajeto até a minha casa.
Richard dá de ombros. O Dr. Hamilton era teimoso como uma mula e já vinha fazendo isso há meses.
Quando chegou a hora de fechar, após deixar tudo limpinho e preparado para o dia seguinte, lá pelas duas da manhã, Richard se dirige ao Dr. hamilton...
- Doutor, sinto muito, mas é hora de fechar.
O Dr. Hamilton não discutia, era um bêbado educado...
- Está bem, meu rapaz, já estava pensando em ir embora mesmo. Que horas são?
E Richard, repetindo o ritual de todas noites...
- Já passam das duas, doutor, o "fog" deve estar intenso!
- Não se preocupe, meu jovem, sou capaz de encontrar o caminho de casa de olhos fechados - e, ajeitando os óculos - Aliás, com esses óculos, é como se estivesse mesmo. Até mais, meu rapaz, até mais!
- Até amanhã, doutor - respondeu Richard, abrindo a porta e conduzindo o advogado para fora. Olhou. O "fog" estava intenso, como sempre. Uma pessoa de visão normal conseguiria enxergar até uns dois metros adiante de si, muito mal. Mas, o doutor era quase cego. Imaginava as dificuldades que ele encontraria. Lá ia ele, tateando com a bengala, como se fosse cego. Fechou a porta.
O doutor parecia possuir um croqui do trajeto em sua mente, tal a sua segurança ao caminhar, sabia exatamente onde tatear a sua bengala, até que, em dado momento, tomou um susto: não sentiu o chão à sua frente! Tateou a bengala de novo e, nada! Abaixou um pouco, tentando encontrar terra firme e, nada! "Meu Deus, há um buraco enorme à minha frente, uma cratera!" - raciocinou - "Se não fosse a minha bengala, eu poderia estar morto!... Que terá acontecido? Na certa é algum conserto na rua, mas, que rapidez! Quando passei aqui, pelas oito, não havia nada!"
O advogado decidiu contornar a cratera... ou o buraco. Quando tentou tatear a bengala pela direita... Surpresa! Também não encontrou nada. "Cadê o chão? Onde foi que me meti?" Virou-se para a esquerda e...nada! Começou a suar frio, apesar da baixa temperatura.
Não ficaria ali, decidiu retornar pelo mesmo lugar de onde viera. Deu meia volta e quando tentou tatear a bengala para encontar o chão...nada!!!
Estava apavorado, não estava mais do que isso, ficou paralizado! Não conseguia se mover naquele pequeno espaço que parecia ser o único local sólido ao seu redor. Só havia uma solução: Permaneceria ali até o amanhecer, quando finalmente, à luz do dia, resolveria aquele misterio.
E assim se deu. Quando raiou o dia, ele finalmente descobriu o que ocorrera: sua infalível bengala havia se partido e ele só estava com o cabo na mão!

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